
irmã,
os corpos estão cansados. na escuridão, iluminados
por uma fome incompreensível. bebemos de um charco,
eliminámos uma sede sem reflexo, na escuridão,
cercados pela questão sempre inacabada,
pelo silêncio, que nunca devolveu a resposta.
os corpos estão muito cansados, repousam
nas margens de um quadro que não tem dimensão,
nas faixas brancas, onde o outro que somos
ainda é ausente, as suas sombras diluem-se
pelas fissuras no cimento, como se fossem engolidas,
sugadas por qualquer coisa de dentro da própria terra,
não são tão importantes assim.
irmã, na infância não encontro nenhuns pedaços,
nada que tenha resistido, tudo é plano quando regresso,
como se a criança que antes era continuasse a viver,
sem tempo, sob o meu olhar.
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