quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

em qualquer animal procuro uma ferocidade que me possa causar medo
porque o medo é um nervo que precisa ser acordado
continuamente
em qualquer animal procuro uma semente que ainda não tenha nascido
para tomá-la decididamente
e tornar o prado repleto de flores na minha memória um abismo
muito difícil que o tempo não ultrapasse

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Conheço-te?


O conhecer é uma coisa estranha. "Não é nada mais que uma quantidade de pormenores. Há espíritos que vêem ao longe e outros que só vêem de perto. Nunca fui capaz de ver as coisas que estão muito perto de mim. Por exemplo: tenho muito mais ideia do que seja o Parténon do que a minha própria casa."
John Steinbeck

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


Pequenas papoilas, pequenas chamas infernais,
sois inofensivas?

Estremeceis. Não posso tocar-vos.
Ponho as minhas mãos por entre as chamas.
Mas nada queima.

E fico exausta quando vos vejo
estremecer assim, pregueadas e rubras como a pele da
boca.

Uma boca há pouco ensanguentada.
Pequenas orlas de sangue!

Há nela um fumo que não consigo tocar.
Onde está o vosso ópio, as vossas cápsulas nauseabundas?

Se eu pudesse esvair-me em sangue ou dormir!...
Se a minha boca conseguisse desposar uma tal ferida!

Ou os vossos licores me penetrassem, nesta cápsula de
vidro,
trazendo-me a acalmia e o silêncio.

Mas sem cor. Sem nenhuma cor.
Sylvia Plath

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

As Regras


entre os pés uma memória deslocada qualquer membro
revela um propósito verdadeiramente solitário uma membrana
que finge voluntariosamente um caminho que nunca foi
percorrido a história é contada e recontada tantas vezes quantas
se inspiram as locomoções de cada polegar instintivamente
é procurada uma língua inexistente quase que demente
esse sofrimento de origem desconhecida qualquer vontade
é reflectida sem ponto de entrada ou de partida somente
rebelião intrínseca de cada sentido dividido à mais ínfima
intenção como se a vida não fizesse sentido só porque
acaba.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


o homem não pode descer a montanha
preso na circunscrição de um único nome
que delimita rigorosamente o espaço da queda

o ar é um nutriente que nunca lhe matará a fome
e a montanha é ele mesmo carne da sua entranha
a possibilidade da claridade à espera que a sombra ceda

sábado, 7 de fevereiro de 2009

"I will wade out till my thighs
Are steeped in burning flowers
I will take the sun in my mouth
And leap into the ripe air alive
With closed eyes
To dash against darkness
in the sleeping curves of my body
I shall enter fingers of smooth mastery
With chasteness of seagulls
Will I complete the mystery of my flesh"
Björk Guðmundsdóttir

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CARTA

"Além dos meros requisitos de viver e de se reproduzir, o que o Homem mais deseja é deixar uma recordação de si mesmo. Talvez uma prova de que na realidade existiu. Deixa essa prova na madeira, na pedra ou nas vidas das outras pessoas. Este desejo profundo existe em toda a gente, desde o rapaz que faz bonecos numa parede até ao buda que grava a sua imagem no espírito de uma raça. Esta vida é tão irreal! Creio que chegamos mesmo a duvidar que existimos e andamos por aí a provar a nós mesmos a nossa existência."

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


eu não quero partir de um passado que nunca existiu
perder ou ganhar uma consciência que me atenua
os actos não me quero sentir observado por mim
mesmo ou sequer separado ausente envidraçado
numa idade que não é a minha não me apetece
outra vez o jogo da sorte da vida ou da morte não quero
ser constituinte apenas de um fio devidamente enrolado
não quero e não posso porque não tenho passado.

letra

  • Antes que Anoiteça - Reinaldo Arenas
  • A Raposa Azul - Sjón
  • o ano da morte de ricardo reis - José Saramago
  • estorvo - Chico Buarque
  • Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
  • o rei peste - Edgar Allan Poe
  • dom casmurro - Machado de Assis
  • a subjectividade por vir - Slavoj Zizek
  • a campânula de vidro - Sylvia Plath
  • o assalto - Reinaldo Arenas
  • xix poemas - e.e. cummings
  • Vigílias - Al Berto
  • pastagens do céu - John Steinbeck
  • Pela Água - Sylvia Plath
  • Budapeste - Chico Buarque
  • O homem duplicado - José Saramago
  • O nome da rosa - Humberto Eco
  • O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
  • 1984 - George Orwell
  • Ariel - Sylvia Plath
  • Mrs Dalloway - Virginia Woolf