quarta-feira, 15 de julho de 2009




apontamento
o silêncio depois de qualquer coisa
é o que contém a maior violência.
os cigarros fumam-se numa noite sentada
à margem: inclinamos a cabeça como se
concordássemos. mas quem somos?
nós? hoje já não há soma hoje já não há
nada. o fumo é uma multidão que estremece
desordenadamente, eu não decido.
não há ninguém depois de mim e mesmo eu
estou destruído, posso parar de falar.
fumemos então porque precisamos de respirar,
porque endoidecemos em todos os instantes,
como ondas assimétricas, vagas descuidadas,
o sangue, o meu sangue, é como uma maré
esgotada: cansada de se repetir.
animais animais animais
rochas algas grãos recifes corais
palavras e não-palavras, tudo o que é por dentro
que saia, para que se conheça a natureza,
para que não tenhamos mais que inventar.
talvez não estejamos em nós
mas na nossa sombra,
talvez tudo seja apenas uma sombra
do que verdadeiramente
é. uma camada de pó sobre
o verdadeiro sentido.

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letra

  • Antes que Anoiteça - Reinaldo Arenas
  • A Raposa Azul - Sjón
  • o ano da morte de ricardo reis - José Saramago
  • estorvo - Chico Buarque
  • Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
  • o rei peste - Edgar Allan Poe
  • dom casmurro - Machado de Assis
  • a subjectividade por vir - Slavoj Zizek
  • a campânula de vidro - Sylvia Plath
  • o assalto - Reinaldo Arenas
  • xix poemas - e.e. cummings
  • Vigílias - Al Berto
  • pastagens do céu - John Steinbeck
  • Pela Água - Sylvia Plath
  • Budapeste - Chico Buarque
  • O homem duplicado - José Saramago
  • O nome da rosa - Humberto Eco
  • O retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde
  • 1984 - George Orwell
  • Ariel - Sylvia Plath
  • Mrs Dalloway - Virginia Woolf